19 de set. de 2011

A viagem - Parte 01

Lembro que era bem cedo. Abri os olhos e estava dentro de um trem, parado na estação final. Era o único passageiro e mesmo sem saber onde estava, aquele era o meu destino. Sai do vagão e um casal me aguardava do lado de fora, e estranhamente, pareciam me conhecer, mas eu nunca os havia visto. Seriam parentes? Seriam amigos? Quem eram aqueles dois que me esperavam e que tanto sabiam de mim? Estranhei, mas diante de tanta evidência positiva, resolvi confiar, de tal forma, que fui para a casa deles, onde me acolheram com muito carinho.

Tudo era novo, a língua, o local, os sons, as pessoas, e mesmo sabendo que aquele não era meu lugar, que aquela não era minha vida, resolvi ficar. Com o tempo, mais pessoas foram sendo apresentadas a mim, mas no início a dificuldade de me comunicar era tamanha que eu me reservava no direito de só escutá-los. Às vezes tentava alguma coisa, mas em vão.

Meu reflexo naquele mundo era algo que me encantava pela novidade, me procurava, e me encontrava em matéria, me tocando e me redescobrindo, como uma espécie de nativo de um ambiente desconhecido e aparentemente amável. Apalpava a água, sobrevoava minhas ilusões e me prendia na minha própria falta de experiência, mas passei a achar aquilo normal. Cheguei a dormir todas as tardes, mesmo sem entender  motivo pelo qual fazia aquilo.

Algumas vezes me via, mesmo que de aparência abstrata, em um grande e verde jardim, em um dia lindo e claro, cercado parcialmente de grades de madeira, pintadas de branco, e , de forma repentina e sem espaço para defesa, uma enorme esfera vinha a meu encontro, interrompendo meu descanço e me acordando para o concreto.

O meio com que eles se locomoviam também era interessante, mas me dava sono, exemplo disso eram as inúmeras cochiladas dadas por mim nos trajetos. Certa vez acordei na chegada da casa da mãe da que me acolheu, e lembro de olhar para a frente e ver a janela, mesmo sem saber que destino era aquele. A jovem senhora vivia na companhia residencial de um homem e um garoto beirando a adolescência, que eram frutos da mesma relação da jovem que me tinha como hóspede.

Dias depois, o casal saiu da casa pequena, de quatro cômodos, para um local um pouco maior, e me levaram junto. Era exatamente do lado de sua mãe, o que estreitou um pouco mais minha relação com os moradores da outra casa.

A experiência mais dolorosa para mim nessa época foi, com toda a certeza, o corte que adquiri na canela quando uma cadeira cujo o material era de uma madeira mais escura, se fechou e uma de suas peças entrou levemente na minha perna. Fui levado ao hostital e lá tomei alguns pontos para fechar o ferimento bruscamente aberto.